Hannah percorria o caminho com desembaraço e nem olhava onde colocava os pés. Os bosques eram-lhe familiares e muitas vezes já os tinha palmilhado de lés-a-lés. Aproximava-se do riacho onde, tantas e tantas vezes, tinha pescado em criança com os seus irmãos. Passou a ponte e chegou ao início da vila. O senhor Thomas varria o patamar em torno da taverna e bisbilhotava as actividades dos vizinhos. Riu-se, o velhote não tinha remédio! Porém, a senhora Bertha estava disposta a dar-lhe, se algum dia ele percebesse finalmente os seus sentimentos! Enfim, os amores da vila eram um enredo fabuloso para Hannah. À noite, sob a luz do candelabro, na sua escrivaninha do quarto, gostava de redigir estas histórias de amores correspondidos ou não. Adorava as festas de casamento no jardim do centro, os bailaricos de convívio e as barraquinhas de comida. Um dos eventos que mais adorava ocorria no verão e trazia uma dinâmica sem paralelo à vila. Era o dia do leilão! Neste, acontecia de tudo um pouco. Os produtores locais ofereciam as suas safras, produtos caseiros e, às vezes até objectos pessoais, de modo a serem licitados e angariarem dinheiro para a junta de freguesia. Era um dia fabuloso! As pessoas juntavam-se todas no largo central, perto do coreto, onde estava o presidente da junta com o microfone na mão a leiloar. Várias cadeiras eram preenchidas pelos primeiros a chegar ao local, sobretudo os mais velhos. Outros, percorriam as bancadas de mármore e estancavam, na dúvida, entre escolher uma fartura, um sonho, uma bifana, um prego, uma água, ou uma cerveja. As crianças corriam e saltavam por todos os lados, perseguiam os cães que, pacientemente, perdoavam-lhes as «maldades».
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