Ivone, encontras-te sozinha naquela casa abandonada, cuja escadaria ainda te assusta e relembra o passado. Vislumbras os momentos vividos intensamente e aos quais não deste o devido valor outrora, agora sim. Sentes-te leve e assombrada, aqui e ali. Rodopias, mas não necessariamente no sentido dos ponteiros do relógio. O candelabro oscila e quase sentes o tremor da terra debaixo dos teus pés. O piano ainda lá está, ao canto, esperando o roçar dos teus dedos. Toca-lhe. Faz-lhe o obséquio. O ecoar da música pelas divisões oferece-lhes mais do que luminosidade: dá-lhes vida. O ladrar de um cão, ouve-se de longe e espreita pela janela entreaberta. O vento sacode a poeira dos livros e dos sofás. Os panos queimam-se na lareira. A cozinha estremece de desejo e pede-te um prato só. Só para voltar a sentir o teu cheiro, o teu perfume, o teu corpo a movimentar-se e a remexer nos tachos e panelas. A adega, acompanha-a no mesmo intenso anseio. Quer que tu abras a garrafa de vinho do porto e faças o brinde:
- A nós, a quem gosta de nós e o resto que se ….
- A nós, a quem gosta de nós e o resto que se ….