Penélope sonhava com o circo desde criança. Tinha assistido várias vezes, enquanto criança, aos espectáculos que por altura do Natal apareciam na sua terra. Eram uma alegria! Seu pai costumava brincar, nessas ocasiões, sobre o grande acontecimento. Dizia que não podia estar constipada, senão não ia ao circo.
- Se espirras, não vais ao circo! – Dizia.
De todo o espectáculo, o seu número preferido era o dos malabaristas. Ao contrário das outras crianças, cujo número preferido era o dos palhaços, detestava aqueles narizes vermelhos e aquelas vestes de várias cores: os seus sorrisos assustavam-na e o seu aspecto lembrava-lhe seres maquiavélicos.
Também não apreciava os números que incluíam animais, pois achava uma crueldade atroz submetê-los a um espaço confinado e a demonstrações de “habilidades” ensaiadas, à custa de engodos e suborno alimentar.
À noite, após o regresso a casa e já na sua cama, fantasiava com o circo. Imaginava-se com asas negras a segurarem estranhamente a sua pseudo saia, collants às riscas e sandálias altas que destacavam a sua silhueta. Uma cartola repousava no alto da sua cabeça e conferia-lhe o título de fada do rock. A sua voz anunciava a presença de contorcionistas e emanava o mistério da penumbra que envolvia o espaço.
Mais tarde, acabou por apreender o misticismo que a atraía ao circo. Tudo era ilusão. Uma paragem no tempo e no espaço que, ao crescer, foi desaparecendo e revelou-se uma reminiscência mágica. Porém, ainda prevalecia no seu íntimo o desejo de fada e, através da sua música, contava histórias intermináveis sobre lugares ilusórios e irreais.
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