E assim nós morremos a nossa vida, tão atentos separadamente
a morrê-la que não reparamos que éramos um só, que cada
um de nós era uma ilusão do outro, e cada um, dentro de si, o
mero eco do seu próprio ser. . .
Zumbe uma mosca, incerta e mínima. . .
Raiam na minha atenção vagos ruídos, nítidos e dispersos, que
enchem de ser já dia a minha consciência do nosso quarto...
Nosso quarto? Nosso de que dois, se eu estou sozinho? Não sei.
Tudo se funde e só fica, fingindo, uma realidade-bruma em que
a minha incerteza soçobra e o meu compreender-me, embalado
de ópios, adormece. . .
A manhã rompeu, como uma queda, do cimo pálido da Hora.
. . Acabaram de arder, meu amor, na lareira da nossa vida,
as achas dos nossos sonhos.. .
Desenganemo-nos da esperança, porque trai, do amor, porque
cansa, da vida, porque farta, e não sacia, e até da morte, porque
traz mais do que se quer e menos do que se espera.
Desenganemo-nos, ó Velada, do nosso próprio tédio, porque
se envelhece de si próprio e não ousa ser toda a angústia que é.
Não choremos, não odiemos, não desejemos. . .
Cubramos, ó silenciosa, com um lençol de linho fino o perfil
hirto da nossa Imperfeição. . .
F. P.
O Eu profundo e os outros Eus
Bem se um texto básico como o meu te fez lembrar Fernando Pessoa... Bem, só pode ser mesmo por teres uma memória selectiva, pois adoro Fernando Pessoa, mas ele é o Rei, eu sou um plebeu.
ResponderEliminarAmbos são seres humanos, ambos exprimem pensamentos e emoções. Não ligo a títulos ou qualquer tipo de hierarquia, apenas sei do que gosto e do que não gosto. Por gostar bastante de Pessoa, se calhar procuro-o e encontro-o em muitos lugares.Sou simples e digo o que me vai na alma.Só invento em alguns textos que escrevo. O resto sou só eu. Have a nice weekend :)
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