Fotografia: Analua Zoé
OS OLHOS DO HOMEM QUE CHORAVA NO RIO
Ana Paula Tavares & Manuel Jorge Marmelo
Lisboa, Editorial Caminho, 135 págs., 2005.
http://www.editorial-caminho.pt/…
"A solução anda agora à solta e dela se abeiram a menina, o tipógrafo e os vultos que sobram. Estão todos na margem. Vestida de branco - a brisa fazendo esvoaçar a seda, bailar os cabelos azuis -, a rapariga vai descalça, caminha com passos leves que são quase um esvoaçar ligeiro e rasante. Sorri e não sabe bem porquê. Avança com o peito inflado, a cabeça erguida".… "Os vultos estão no exacto limiar da terra, voltados para as águas, e a menina não os vê, não por lhe terem voltado as costas, não por serem invisíveis ao olhar dos homens, mas apenas porque tem os olhos postos longe. Avança, por isso, indiferente à parada silenciosa e cabisbaixa, ao cerimonial das sombras da beira do Douro. O tipógrafo vem em sentido contrário, com a fileira dos vultos à esquerda. Não sorri. Traz apenas um rosto sereno, duro ainda, e o vento que entra pela boca do rio brinca-lhe com a melena escura dos cabelos".… "De mão dada, menina e tipógrafo avançam também para o Douro. São poucos passos para tanta felicidade. Sabem que devem despedir-se, talvez agradecer. Sabem que o rio os uniu e que continuará a estar na vida de ambos".
Há promessas que nunca devem ser feitas, quando não passam de palavras ditas em vão.Pena ter saudades da verdade da mentira.
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